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Apenas 8 em cada 100 profissionais de alto escalão nas empresas do Brasil são do sexo feminino, segundo uma pesquisa da FGV (Fundação Getúlio Vargas). Outro número, do IBGC
(Instituto Brasileiro de Governança Corporativa) confirma o contraste:
as executivas não passam de 7,2% nos conselhos administrativos
brasileiros.
Luiza Helena Trajano, presidente do Magazine Luiza,
acredita que o preconceito histórico contra as mulheres demorará muito
tempo para ser superado. A única solução viável, portanto, seria a
implementação de cotas para elas nos conselhos das empresas - uma medida
já tomada por outros países, como Noruega, Espanha e Holanda.
“Sou uma defensora de cotas de forma geral, porque elas são um
procedimento transitório para reparar uma desigualdade”, disse a
empresária, que participou de um debate sobre inclusão feminina no 4º
Fórum Mulheres em Destaque.
Ela cita o exemplo da lei que obriga a contratação de deficientes
físicos nas empresas como um indício de que a política funciona. “Antes
existia muito preconceito contra eles, as pessoas diziam que eles não
seriam capazes de executar bem as tarefas, mas as cotas funcionam e eles
trabalham muito bem”, afirmou Luiza.
"Não dá para esperar"
Na visão de Adriana Carvalho, assessora da ONU Mulheres,
entidade dedicada ao empoderamento feminino, as mulheres não têm chance
de ocupar cargos nas empresas porque suas competências enquanto líderes
não são reconhecidas.
“Nossa cultura patriarcal sempre viu o chefe na figura do homem, e esse
é um viés muito difícil de superar em pouco tempo", disse Adriana no
evento.
É com isso que Raquel Preto, presidente da Preto Advogados, justifica
sua defesa das cotas. Segundo ela, essa é a única solução imediata para
um problema que “levaria 300 anos” para ser resolvido espontaneamente.
“Não dá para esperar, precisamos exigir isso para hoje”, disse a
advogada no debate. “Ninguém diz para você ter paciência e ver que as
coisas estão melhorando aos poucos quando falamos de um outro assunto
grave, como a violência urbana por exemplo”
Ela chama a atenção para o fato de que as mulheres são minoria em
cargos de decisão não apenas nas empresas, mas também na esfera
governamental.
“É um vexame institucional que 51% da população brasileira seja tão
pouco representada no legislativo, no executivo e no judiciário”,
afirmou Raquel. “Se não agirmos agora, as meninas de hoje não terão
oportunidades iguais em nenhuma carreira que escolherem, seja ela
pública ou privada”.
Alternativas
Para Luciana Batista, sócia da Bain & Company, é unânime a
ideia de que a inclusão feminina nas empresas não é “apenas uma questão
de tempo”.
Ainda assim, ela pondera que a iniciativa talvez não precise partir do
governo. “Na Noruega, por exemplo, um efeito colateral das cotas
femininas foi que muitas empresas fecharam o capital e se tornaram menos
transparentes”, explicou ela.
Uma solução alternativa seria a adoção de metas voluntárias pelas
empresas, ou seja, ações para promover e valorizar mulheres que fossem
tomadas espontaneamente pela iniciativa privada. “Vale pensar se isso
não pode ser mais eficaz, por ser uma medida de dentro para fora, e não o
contrário”, explica Luciana.
Raquel, da Preto Advogados, acredita que nada substitui a necessidade
de implementar políticas públicas de inclusão. Ela cita o exemplo da
Noruega, que aprovou uma lei que tornava a licença-paternidade
obrigatória e teve como resultado a redução das desigualdades de
salários entre homens e mulheres. “Políticas governamentais afirmativas
funcionam sim”, afirmou a advogada.
Apesar disso, ela não acredita que a força da lei seja o único remédio
necessário. “Também temos que mudar a cultura na sua base, lutando para
que as nossas escolas, por exemplo, sejam menos sexistas”, diz Raquel.
Luciana, da Bain & Company, acredita que a mudança a longo prazo
depende, sobretudo, da formação das novas gerações. “É importante
reconhecer os nossos preconceitos e tentar desconstruí-los na hora de
criar filhas e filhos”, conclui ela.
Por: Claudia Gasparini, de EXAME.com
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